ARTIGO DE OPINIÃO

O dia em que o bolsonarismo se intimidou com a presença de armas e do Exército


Um vídeo divulgado pelo senador Márcio Bittar criticando a presença do Exército durante a fiscalização de uma fazenda em Capixaba ontem deixa a população confusa sobre quais ideias realmente são defendidas pelo governo do presidente Bolsonaro.

Deixa eu explicar, uma fiscalização do Ministério da Agricultura e do Idaf, contou com a presença de militares do exército armados com fuzis. Capixaba é um município de fronteira com a Bolívia, de onde entram quantidades monstruosas de drogas em território brasileiro e alimentam o narcotráfico, responsável por assassinatos constantes e recrutamento de jovens para organizações criminosas.

A mesma Bolívia, que ao lado do Peru, são os principais produtores de coca do mundo, matéria-prima para a produção de benzoilmetilecgonina, mais conhecido como cocaína. E isso não é de hoje, era de lá que por exemplo, narcotraficantes como Pablo Escobar recebia as folhas para a produção da droga que o fez erguer um império e declarar guerra contra um país inteiro. O Acre, vive hoje algo parecido com a Colômbia dos anos 80, a violência cada vez mais frequente acontece em plena luz do dia.

Acredito eu ser natural que ao saber dessas atividades criminosas, servidores de órgãos fiscalizadores se sintam ameaçados e solicitem ajuda de forças armadas para proteção, afinal, ao contrário dos que muitos pensam, o exército não serve apenas para “capinar” e “pintar meios-fios. Você não se sentiria mais protegido? A fiscalização visava averiguar o armazenamento de defensivos e a possível destinação inadequada de embalagens vazias de agrotóxicos na propriedade.

Não estou criticando a revolta do proprietário, afinal, é sua propriedade e isso lhe dá o direito de questionar a presença de tanta gente inesperada. Ainda que os servidores afirmem ter explicado o motivo da presença dos fuzis. O que não é compreensivo é o repúdio daqueles que elegeram um governo militar, que exalta regimes ditatoriais como o vivido no Brasil entre 1964 e 1985 e que agora se opõem ferozmente ao que consideram “tratar produtor como bandido”, ainda não tivessem mostrado nenhum mínimo exemplo do que acontecia durante o regime militar, como abusos de autoridade e enquadramentos.

Bolsonaro, aquele mesmo que disse que iria armar mulheres para cometerem “homemcídios” e que inúmeras vezes apareceu com fotos de fuzis, aparece agora como a figura que irá analisar a presença militar na propriedade.

Se na teoria bolsonarista a ideia é conviver ao lado de armas e exaltar as forças militares, a prática mostra que isso incomoda, intimida e gera revolta. Em nota, o próprio Ministério esclareceu que solicitou a presença das forças armadas para evitar conflitos com o tráfico de drogas e armas. É questionável… O que realmente é defendido pela ideologia extrema-conservadora? Contra quem o exército deve ser usado? A quem as armas devem intimidar?

Se a atuação dos fiscais foi exagerada ou não, não sou eu quem deve decidir, mas que o incômodo com a presença de armas para aqueles que se elegeram as defendendo, é no mínimo, cômico.

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Anderson Siqueira

Editor-chefe, escritor, amante de meditação e da boa cozinha. Contato: andersonsiqueira.br@gmail.com